
Pessoas que cochilam frequentemente têm um risco maior de AVC e hipertensão
04/08/2022Estudo aponta que cochilar frequentemente pode aumentar o risco de hipertensão e AVC
Quem nunca tirou um cochilo durante o dia para recuperar as energias? Embora seja uma prática comum e muitas vezes considerada benéfica para o bem-estar, um novo estudo revelou que o hábito frequente de cochilar pode estar relacionado a riscos elevados de hipertensão e acidente vascular cerebral (AVC). Essa descoberta preocupante traz novos questionamentos sobre o impacto dos cochilos na saúde cardiovascular.
A pesquisa foi baseada em dados do Biobank do Reino Unido, um dos maiores biobancos do mundo, que armazena amostras biológicas de centenas de milhares de voluntários para fins de pesquisa científica. No total, foram analisadas informações de 358.451 pessoas identificadas como “cochiladoras”. Dentre esse grupo, 50.507 participantes desenvolveram hipertensão e 4.333 sofreram AVC ao longo do período de acompanhamento.
O estudo observou também diversas características sociodemográficas e hábitos de vida dos participantes. De acordo com a análise, a maioria dos indivíduos que tinham o hábito frequente de cochilar era composta por homens, fumantes e consumidores regulares de bebidas alcoólicas. Esses indivíduos também apresentavam, em média, níveis mais baixos de escolaridade e renda, além de relatarem problemas como insônia e ronco noturno.
Riscos aumentados de hipertensão e AVC
Ao correlacionar os dados de saúde e comportamento dos participantes, os pesquisadores constataram que as pessoas que tiravam cochilos regulares apresentavam um risco 12% maior de desenvolver hipertensão arterial e um risco 24% maior de sofrer um AVC em comparação com aquelas que raramente cochilavam. O risco foi ainda mais acentuado em indivíduos com menos de 60 anos, sugerindo que a prática pode ter efeitos negativos ainda mais pronunciados em populações mais jovens.
O anestesiologista E. Wang, do Hospital Xiangya, da Central South University, na China, principal autor do estudo, comentou os achados: “Esses resultados são especialmente relevantes, pois milhões de pessoas em todo o mundo podem desfrutar de uma soneca diária, acreditando ser algo inofensivo”.
Wang enfatizou que, embora cochilar não seja prejudicial por si só, a necessidade frequente de dormir durante o dia pode ser um sintoma de distúrbios de sono noturno, como a insônia, que por sua vez estão associados a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares.
Especialistas ponderam os resultados
Michael Grandner, psicólogo clínico e especialista em sono da Universidade do Arizona, também comentou o estudo. Para ele, o cochilo frequente é muitas vezes uma resposta natural à privação de sono noturno. “Muitas pessoas que tiram sonecas regulares fazem isso porque não dormem adequadamente durante a noite. No entanto, dormir mal à noite está fortemente associado a piores desfechos de saúde, e cochilos diurnos, por melhores que sejam, não compensam os danos de um sono insuficiente ou de má qualidade”, explicou.
Essas observações levam a uma reflexão importante: o cochilo em si pode não ser o verdadeiro vilão, mas sim um sintoma de um problema de sono subjacente que aumenta o risco de doenças cardiovasculares.
Evidências anteriores e necessidade de mais estudos
Este não é o primeiro estudo a levantar suspeitas sobre os efeitos dos cochilos na saúde cardiovascular. Pesquisas anteriores já haviam sugerido uma possível ligação entre sonecas e o aumento da pressão arterial. Em alguns casos, foi observado que a pressão arterial pode se elevar após um cochilo, potencialmente contribuindo para eventos como AVCs.
O novo levantamento reforça essas evidências, mas os próprios pesquisadores reconhecem que ainda não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito definitiva entre cochilar e o aumento dos riscos cardiovasculares. “Embora os dados sugiram uma associação, é necessário realizar mais pesquisas para entender exatamente como e por que a prática de cochilar pode contribuir para essas condições de saúde”, afirma Wang.
Os cientistas também destacam a importância de considerar outros fatores de risco, como o estilo de vida, os hábitos alimentares, a prática de atividades físicas e o histórico familiar, ao interpretar os resultados. Nem todos que cochilam correm riscos elevados, mas aqueles que precisam de cochilos frequentes e prolongados podem se beneficiar de uma avaliação médica para investigar possíveis distúrbios de sono.
Conclusão: cochilos e saúde cardiovascular
A pesquisa publicada na revista Hypertension traz um alerta importante para a comunidade médica e para o público em geral. Embora o cochilo esporádico não deva ser visto como um risco por si só, a prática regular e frequente de sonecas diurnas pode ser um sinal de alerta para problemas de sono e potenciais riscos cardiovasculares.
Portanto, é fundamental observar os padrões de sono e buscar ajuda profissional se o cansaço diurno for frequente. Investir em uma boa qualidade de sono noturno continua sendo uma das estratégias mais eficazes para manter a saúde do coração e prevenir doenças graves como a hipertensão e o AVC.