Conflitos com o Universo DC teriam causado cancelamento

Cancelamento de “Batgirl”: Warner Bros. opta por engavetar filme mesmo após milhões investidos

Na última terça-feira (2), o mundo do entretenimento foi surpreendido com o anúncio de que o aguardado filme Batgirl, da DC Comics, não será lançado — nem nos cinemas, nem em plataformas de streaming. A decisão, considerada rara na indústria cinematográfica, chamou a atenção especialmente porque o longa já estava praticamente finalizado e envolvia um investimento de aproximadamente US$ 90 milhões.

A princípio, surgiram especulações de que o cancelamento teria sido motivado pela baixa qualidade do filme, após sessões-teste supostamente mal recebidas por parte do público. Uma matéria do New York Post chegou a afirmar que pessoas que assistiram às prévias descreveram o filme como “irremediável”, alimentando rumores de que os executivos da Warner Bros. teriam julgado o conteúdo abaixo dos padrões aceitáveis para lançamento.

Fontes negam problemas com qualidade

No entanto, informações publicadas pela revista Variety contradizem essa versão inicial. Fontes ligadas à Warner Bros. garantem que a decisão não teve relação direta com a qualidade do material ou com o desempenho do elenco e da equipe técnica. De acordo com essas fontes, a principal motivação para engavetar o projeto está relacionada a uma mudança estratégica na abordagem da empresa em relação ao universo cinematográfico da DC e à integração com o serviço de streaming HBO Max.

“A decisão de não lançar Batgirl reflete a nova orientação da liderança do estúdio sobre o futuro da DC no cinema e nas plataformas digitais,” declarou a Warner Bros. em um comunicado oficial. “Leslie Grace é uma atriz extremamente talentosa e esta decisão não reflete sua atuação. Somos profundamente gratos aos diretores de Batgirl e Scoob! Holiday Haunt e ao elenco envolvido em ambos os projetos. Esperamos trabalhar com todos novamente em um futuro próximo.”

Diferença de escala e orçamento

Outro fator determinante para o cancelamento foi o nível de investimento em comparação com outras produções da DC. Inicialmente orçado em US$ 75 milhões, o valor do projeto cresceu para cerca de US$ 90 milhões devido aos protocolos e restrições impostos durante a pandemia. Ainda assim, o filme era considerado de médio porte, distante do padrão dos grandes blockbusters que o estúdio deseja para suas franquias.

Para efeito de comparação, Aquaman (2018), outro filme da DC, contou com um orçamento de aproximadamente US$ 200 milhões e arrecadou mais de US$ 1 bilhão nas bilheteiras mundiais. A sequência, prevista para 2023, já ultrapassa os US$ 300 milhões de orçamento, segundo informações extraoficiais. Diante disso, lançar Batgirl — um filme menor, pensado inicialmente para o streaming — destoaria do novo posicionamento da Warner Bros., especialmente após a fusão com a Discovery, que resultou em uma reformulação das estratégias do estúdio.

Direção, elenco e enredo

Dirigido pela dupla Adil El Arbi e Bilall Fallah, conhecida pelo trabalho em Bad Boys para Sempre, e com roteiro de Christina Hodson (Aves de Rapina), Batgirl prometia trazer uma abordagem moderna e inclusiva da personagem Barbara Gordon, alter ego da heroína. No papel principal estava Leslie Grace, atriz e cantora revelada no musical Em um Bairro de Nova York (In the Heights).

O elenco incluía ainda nomes de peso, como Brendan Fraser, escalado para interpretar o vilão Vagalume (Firefly), Ivory Aquino, no papel da vigilante trans Alysia Yeoh — uma das primeiras personagens trans da DC em adaptações live-action — além de Rebecca Front, Corey Johnson e Ethan Kai.

Impacto na indústria

A decisão de cancelar um filme praticamente pronto e com altos custos envolvidos não é comum na indústria cinematográfica. Na maioria das vezes, os estúdios preferem lançar os filmes para tentar, ao menos, recuperar parte do investimento com bilheteria, vendas digitais ou visualizações em plataformas de streaming. Engavetar Batgirl, portanto, representa uma mudança radical e sinaliza que a nova liderança da Warner Bros. Discovery está disposta a tomar decisões drásticas para alinhar a marca DC a uma imagem mais consistente e rentável.

Para alguns analistas do setor, essa atitude pode indicar uma tentativa do estúdio de reformular completamente o Universo Estendido da DC (DCEU), eliminando projetos que não se encaixam na nova visão de futuro. Outros veem o cancelamento como um sinal de insegurança, já que a empresa optou por absorver um prejuízo milionário em vez de arriscar críticas negativas.

Independentemente dos bastidores, o caso Batgirl se tornou emblemático por representar os desafios enfrentados por grandes estúdios em tempos de transição, onde estratégias comerciais, expectativas do público e mudanças internas colidem com frequência.