
China lança três satélites na órbita da Terra; analistas veem risco de espionagem
03/08/2022China lança três novos satélites de reconhecimento da série Yaogan e reforça presença em órbita
No dia 29 de julho, a China realizou com sucesso o lançamento de três novos satélites de reconhecimento, ampliando ainda mais sua já significativa constelação de observação terrestre. Os equipamentos integram a série Yaogan, uma linha de satélites usada para fins de monitoramento e detecção remota. O lançamento foi efetuado por meio de um foguete Long March 2D, que partiu do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang, localizado na província de Sichuan, no sudoeste do país.
Com essa operação, a China reforça sua crescente atividade espacial e amplia a quantidade de satélites da série Yaogan 35 em operação. Os três dispositivos recém-lançados se unem a outros sete satélites da mesma série que foram enviados ao espaço em novembro de 2021 e junho de 2022, totalizando agora dez unidades em órbita terrestre baixa.
Satélites estrategicamente posicionados
Todos os satélites da série Yaogan 35 orbitam a aproximadamente 500 quilômetros acima da superfície da Terra, com uma inclinação de 35 graus em relação ao equador. Esse posicionamento é cuidadosamente planejado para permitir que os satélites passem frequentemente sobre determinadas regiões de interesse estratégico, tornando-os ferramentas valiosas para vigilância e coleta de dados sobre áreas específicas do planeta.
Origem e desenvolvimento dos equipamentos
Dos três novos satélites lançados, dois foram desenvolvidos pela empresa Aerospace Dongfanghong Satellite, uma das subsidiárias da Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China (CASC) — órgão responsável por boa parte do programa espacial do país. O terceiro satélite foi produzido pela Academia de Voo Espacial de Xangai (SAST), também vinculada à CASC. Essas instituições têm desempenhado papel central na construção da infraestrutura espacial chinesa, especialmente na produção de satélites de observação e reconhecimento.
O foguete Long March 2D, utilizado para o lançamento, é um veículo de médio porte com histórico confiável e amplamente utilizado em missões de satélites de órbita baixa. A missão foi mais uma demonstração da capacidade da China de realizar lançamentos regulares e precisos.
Finalidade civil ou militar?
Embora oficialmente apresentados como satélites de detecção remota — tradução do termo “Yaogan” — e destinados a experimentos científicos, monitoramento ambiental, uso da terra e gestão de recursos naturais, existe uma crescente suspeita por parte da comunidade internacional de que esses dispositivos também possam estar sendo empregados para fins militares.
Essa hipótese ganha força diante do sigilo que cerca os detalhes técnicos e operacionais dos satélites Yaogan. Poucas informações são divulgadas sobre as especificações dos sensores, o tipo de carga útil transportada ou mesmo os dados coletados em suas órbitas.
Segundo o Instituto Europeu de Política Espacial (European Space Policy Institute – ESPI), com sede na Áustria, os satélites da série Yaogan são frequentemente associados a atividades de vigilância estratégica, o que levanta preocupações sobre espionagem espacial. Diversos analistas internacionais interpretam esses lançamentos como parte de um esforço maior por parte da China para ampliar sua capacidade de observação global — não apenas para fins civis, mas também com objetivos militares, como vigilância de instalações estrangeiras, movimentos de tropas e embarcações navais.
Programa espacial chinês em ascensão
O lançamento mais recente representa apenas uma fração da atividade espacial intensa que a China vem promovendo nos últimos anos. Em 2022, até o final de julho, o país já havia realizado 27 lançamentos orbitais, uma marca expressiva que o coloca como o segundo país com maior número de missões espaciais no ano, atrás apenas dos Estados Unidos.
A meta do programa espacial chinês é realizar mais de 50 lançamentos até o fim de 2022, consolidando seu lugar entre os líderes da nova corrida espacial. Entre os principais objetivos estratégicos da China está o fortalecimento de sua infraestrutura orbital, o desenvolvimento de sua própria estação espacial Tiangong, além do envio de sondas para a Lua e Marte — iniciativas que demonstram sua ambição em se tornar uma potência espacial de primeiro escalão.
Considerações finais
O lançamento dos três novos satélites da série Yaogan 35 evidencia o ritmo acelerado do programa espacial chinês, que alia tecnologia avançada, investimentos massivos e ambições geopolíticas. Embora oficialmente descritos como ferramentas para coleta de dados científicos e ambientais, a falta de transparência quanto às suas funções reais levanta questionamentos legítimos sobre seus possíveis usos militares e estratégicos.
O crescimento da constelação Yaogan também reflete uma nova era na observação da Terra, em que as fronteiras entre as aplicações civis e militares se tornam cada vez mais tênues. Com isso, os olhos da comunidade internacional permanecem atentos a cada nova movimentação da China no espaço — um domínio que, a cada dia, se mostra mais disputado.