
Profundezas do Pacífico escondem criaturas bizarras; veja
04/08/2022Cientistas descobrem dezenas de espécies inéditas em megafauna no fundo do oceano Pacífico
Pesquisadores do Museu de História Natural (NHM) de Londres realizaram uma descoberta impressionante no fundo do oceano Pacífico: uma vasta e pouco conhecida megafauna composta por dezenas de criaturas fascinantes, muitas das quais são espécies inéditas para a ciência. Durante a expedição, os cientistas encontraram seres extraordinários, incluindo um pepino-do-mar que se assemelha a uma banana parcialmente descascada e uma delicada esponja marinha com formato de tulipa.
A missão, realizada em 2018, utilizou um veículo operado remotamente (ROV) para explorar a borda oeste de uma fossa oceânica localizada entre o Havaí e o México. A quase cinco mil metros de profundidade, a equipe observou 55 espécimes de organismos marinhos, entre eles sete novas espécies, que agora estão formalmente descritas em um artigo publicado na revista científica ZooKeys.
Apesar de o lado oriental da fossa ser visitado com certa regularidade, a parte ocidental, conhecida como Zona Clarion-Clipperton (CCZ), permaneceu em grande parte intocada. Este vasto território subaquático abriga inúmeras montanhas submarinas e constitui um verdadeiro tesouro para a biodiversidade, proporcionando um cenário ideal para descobertas científicas como esta.
Segundo Guadalupe Bribiesca-Contreras, bióloga do NHM e autora principal do estudo, a região vinha sendo negligenciada desde os tempos da histórica expedição HMS Challenger, há cerca de 150 anos. “Desde então, houve poucos estudos nesta parte do oceano”, afirmou em entrevista ao site LiveScience. “Ainda conhecemos muito pouco dessa área.”
Criaturas surpreendentes em um mundo desconhecido
Entre os organismos documentados, destaca-se o pepino-do-mar Psychropotes longicauda, que impressiona pela aparência incomum: seu corpo elástico, semelhante a uma banana amassada, pode chegar a quase 60 centímetros de comprimento. Outro destaque foi a descoberta de uma esponja marinha do gênero Hyalonema, cujas formas elegantes lembram uma tulipa flutuando nas profundezas abissais.
Além dessas criaturas já descritas, a expedição resultou na identificação de novas espécies potenciais. Uma delas, um tipo de coral do gênero Chrysogorgia, chamou particularmente a atenção da equipe de pesquisadores. Inicialmente confundido com a espécie atlântica Chrysogorgia abludo devido à sua semelhança morfológica, análises moleculares mais detalhadas revelaram diferenças suficientes para classificá-lo como uma espécie nova.
“É fascinante perceber como essas formas de vida permanecem praticamente inalteradas ao longo de milhões de anos”, disse Guadalupe. Para ela, essa estabilidade evolutiva é resultado das adaptações extremamente eficazes dessas espécies a ambientes extremos, como as profundezas oceânicas.
Sobrevivendo em condições extremas
A vida a cinco mil metros abaixo da superfície é, sem dúvida, um desafio. Na escuridão permanente, sob enorme pressão e com acesso extremamente limitado a nutrientes, as criaturas precisam de adaptações específicas para sobreviver. Segundo Guadalupe, essas condições extremas explicam a persistência de características tão peculiares ao longo da história evolutiva.
Antes dessa expedição, grande parte dessas espécies era conhecida apenas por meio de fósseis ou de registros fotográficos. Agora, pela primeira vez, os cientistas puderam observar os animais vivos, em seu habitat natural, e realizar análises laboratoriais detalhadas posteriormente.
Essas observações são de extrema importância não apenas para a biologia marinha, mas também para a conservação dos ecossistemas oceânicos. À medida que a mineração em alto-mar avança em várias partes do mundo, incluindo a própria Zona Clarion-Clipperton, entender esses ambientes se torna vital.
A urgência da conservação
A exploração de minérios no fundo do mar, como nódulos polimetálicos ricos em metais valiosos, ameaça ecossistemas inteiros ainda pouco compreendidos. A bióloga alerta para a necessidade urgente de ampliar o conhecimento científico sobre essas áreas antes que sejam danificadas irreversivelmente.
“Precisamos realmente entender esses ecossistemas para elaborar planos eficazes de conservação”, reforçou Guadalupe. “Hoje, nossa falta de informações torna difícil prever os impactos reais que a mineração pode causar.”
Estudos como o realizado pelo NHM mostram a incrível diversidade ainda escondida nas profundezas do oceano e ressaltam a importância de protegê-las. Cada nova espécie descoberta é uma peça a mais no complexo quebra-cabeça da vida na Terra, cuja preservação depende do equilíbrio delicado entre a exploração e a conservação.
À medida que o apetite global por recursos minerais cresce, encontrar soluções sustentáveis para proteger esses ecossistemas torna-se um desafio científico, ambiental e ético que não pode ser ignorado.