Streamers do TikTok e da Twitch perdem o sono por dinheiro

Streamers do TikTok e da Twitch perdem o sono por dinheiro

04/08/2022 0 Por Duda

O fenômeno dos streamers do sono: entre choques elétricos e lucros astronômicos

Todos os sábados, entre meia-noite e 4h20 da manhã, Mikkel Nielson, de 26 anos, enfrenta uma rotina inusitada: barulhos ensurdecedores, luzes piscando intensamente e até choques elétricos. A ideia surgiu quando Mikkel decidiu se filmar enquanto dormia, ou melhor, tentava dormir. O curioso é que ele não está sozinho nessa jornada: mais de mil pessoas o assistem ao vivo pela plataforma Twitch nesse período.

Boa parte do público que o acompanha durante a madrugada também contribui financeiramente para suas transmissões. O dinheiro arrecadado é utilizado principalmente para aprimorar o ambiente em que ele realiza suas lives. A interação é o grande diferencial: por apenas US$ 1 (cerca de R$ 5), os espectadores podem enviar mensagens que são lidas em voz alta por um bot, acordando Mikkel. Por US$ 95 (aproximadamente R$ 500), é possível aplicar nele um choque elétrico através de uma pulseira especial que ele utiliza.

O surgimento dos streamers de sono interativo

Mikkel faz parte de uma tendência crescente nas plataformas digitais conhecida como “streaming de sono interativo”. Esse fenômeno, que tem ganhado cada vez mais força em redes como a Twitch e o TikTok, já foi abordado pela revista WIRED em 2020. No início, os streamers apenas se filmavam dormindo, sem interagir com o público. Hoje, a prática evoluiu para algo muito mais dinâmico e, por vezes, perturbador.

Os seguidores passaram a ter o poder de interferir diretamente no descanso dos criadores de conteúdo, seja com sons estridentes, luzes agressivas ou dispositivos que causam desconforto físico. Essa dinâmica aumenta o engajamento das transmissões, mas também coloca em xeque a saúde dos streamers, que raramente conseguem completar um ciclo de sono durante essas sessões.

Entre diversão e sofrimento

Apesar do sucesso e da aparente diversão do público, a prática traz consequências sérias para quem participa. Mikkel já foi flagrado gritando de dor ou socando o colchão em desespero, situações que evidenciam os danos que a falta de sono e o estresse físico podem causar. O entretenimento gerado a partir do sofrimento alheio levanta debates sobre os limites da exposição nas redes sociais.

É importante ressaltar que, durante essas transmissões, os streamers não chegam a dormir de verdade. A cada nova doação, uma nova perturbação é disparada, impedindo qualquer possibilidade de descanso profundo. Muitos montam seus quartos com equipamentos especiais prontos para reagir aos comandos do público, tudo para garantir que a interação seja intensa e constante.

Outros exemplos de sucesso

Mikkel não é o único a transformar o sono — ou a ausência dele — em uma fonte de renda. Na Austrália, o TikToker Jakey Boehm também se destacou nesse formato e, em apenas um mês, chegou a faturar US$ 34 mil (mais de R$ 179 mil) com suas lives de sono interativo. Criadores como Asian Andy, no YouTube, foram pioneiros nesse tipo de conteúdo e não escondem o sucesso financeiro: ele relatou ter ganhado cerca de US$ 16 mil (R$ 84 mil) em apenas uma noite de sete horas ao vivo.

Esses números impressionantes mostram que há uma demanda crescente por esse tipo de entretenimento, mesmo que o preço pago pelos criadores seja alto em termos de saúde e bem-estar.

As regras e desafios para novos criadores

No TikTok, há uma exigência específica: apenas usuários com mais de mil seguidores podem realizar lives. Isso levou muitos aspirantes a streamers a buscarem rapidamente ampliar sua base de seguidores para também poderem entrar nesse mercado. Em redes sociais, é comum ver pedidos de apoio para que novos criadores possam atingir o número mínimo necessário e, assim, dar início às suas transmissões noturnas.

Mikkel e sua defesa da prática

Apesar dos efeitos negativos sobre o sono, Mikkel defende sua escolha. Segundo ele, ao fazer lives de sono duas vezes por mês, consegue arrecadar o suficiente para cobrir o aluguel e pagar suas contas básicas. Em um contexto econômico difícil para muitos jovens, a possibilidade de garantir uma renda razoável por meio de transmissões, mesmo com desconforto, se torna uma opção viável.

Conclusão

O fenômeno dos streamers de sono interativo reflete não apenas a criatividade na produção de conteúdo digital, mas também os extremos a que as pessoas estão dispostas a ir para conquistar audiência e renda nas plataformas online. Entre choques elétricos, gritos e noites mal dormidas, esses criadores transformam suas dificuldades em espetáculo, cativando milhares de pessoas em busca de entretenimento ao vivo. No fim das contas, enquanto houver quem assista — e doe —, é provável que a tendência continue a crescer.