
Robô de cirurgia remota será testado na Estação Espacial Internacional em 2024
03/08/2022NASA testa robô cirúrgico MIRA para futuras missões a Marte
Com o olhar voltado para as futuras missões tripuladas ao espaço profundo, especialmente ao planeta Marte, a NASA tem investido em tecnologias capazes de garantir a segurança e o bem-estar dos astronautas durante longas jornadas. Uma dessas inovações é o MIRA — sigla em inglês para Assistente Robótico Miniaturizado — um robô cirúrgico compacto e altamente tecnológico que está sendo desenvolvido há cerca de duas décadas.
Criado pela empresa norte-americana Virtual Incision, o MIRA será testado pela NASA em parceria com a companhia privada a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS), a partir de 2024. O objetivo é avaliar se a tecnologia é viável para ser empregada em missões prolongadas, onde o suporte médico imediato, como em hospitais terrestres, não está disponível.
Uma solução médica para o espaço profundo
O MIRA foi concebido para realizar cirurgias minimamente invasivas, além de procedimentos médicos e odontológicos, por meio de controle remoto. Equipado com dois braços robóticos precisos, ele pode ser operado à distância, permitindo que um profissional médico em Terra controle as ações do robô mesmo quando este estiver fora do planeta. Essa funcionalidade é especialmente importante para missões interplanetárias, nas quais pode haver emergências médicas a milhares ou até milhões de quilômetros da Terra.
O CEO da Virtual Incision, John Murphy, destacou a importância do projeto, ressaltando que a missão da empresa sempre foi tornar a cirurgia robótica acessível em qualquer lugar do mundo — e, agora, fora dele. “Trabalhar com a NASA na estação espacial vai testar como o MIRA pode levar a cirurgia até os lugares mais distantes, inclusive o espaço sideral”, afirmou Murphy.
Testes no espaço: simulação em microgravidade
Os testes que serão conduzidos a bordo da ISS servirão para verificar a eficiência e segurança do MIRA em ambiente de microgravidade, simulando condições semelhantes às encontradas em missões espaciais de longa duração. Segundo a Virtual Incision, o robô será instalado em um armário de experimentos do tamanho de um forno de micro-ondas, e será incumbido de realizar tarefas similares às de uma cirurgia real, como cortar tecidos simulados, manipular pequenos objetos e realizar suturas simples.
Esses procedimentos são projetados para avaliar a precisão dos movimentos robóticos e a capacidade do sistema de operar de forma eficaz mesmo nas condições adversas do espaço. O robô, que pesa apenas dois quilos, é especialmente adequado para esse tipo de missão, graças ao seu design compacto e leve.
Design pensado para o futuro da medicina espacial
O MIRA possui uma arquitetura inovadora que combina controle remoto com uma interface familiar para cirurgiões. O console é operado por meio de controles manuais e pedais que permitem total controle dos braços robóticos. A plataforma também é equipada com uma câmera endoscópica que transmite imagens em tempo real da área em operação, permitindo que os médicos acompanhem a anatomia e o progresso do procedimento com clareza e precisão.
Essa capacidade de visualização em tempo real é essencial para garantir a segurança dos procedimentos médicos durante missões espaciais, onde erros podem ter consequências graves e recursos para correção são limitados.
Medicina espacial: um novo campo de desenvolvimento
As missões espaciais tripuladas, como as previstas para Marte, devem durar vários anos. Durante esse tempo, os astronautas enfrentarão riscos relacionados à saúde física e mental. Situações emergenciais como apendicite, fraturas ou lesões dentárias podem exigir intervenções médicas rápidas. A presença de um robô como o MIRA a bordo de uma nave ou base marciana pode ser a diferença entre a vida e a morte.
Além disso, nem todas as missões espaciais terão médicos cirurgiões a bordo, o que aumenta a importância de ferramentas médicas autônomas ou remotamente operáveis. A tecnologia do MIRA pode ser integrada com sistemas de inteligência artificial no futuro, possibilitando que algumas decisões médicas sejam tomadas automaticamente ou com o mínimo de supervisão humana.
Avanços além do espaço
Embora o objetivo inicial do projeto seja facilitar cirurgias em ambientes extremos como o espaço, o MIRA também tem potencial para revolucionar a medicina aqui na Terra. Em regiões remotas ou com infraestrutura hospitalar limitada, a possibilidade de realizar cirurgias por meio de robôs controlados à distância pode expandir significativamente o acesso a cuidados médicos especializados.
Hospitais de campanha em zonas de conflito, áreas rurais isoladas e comunidades em desenvolvimento poderiam se beneficiar da aplicação terrestre dessa mesma tecnologia, democratizando o acesso à cirurgia robótica e melhorando o atendimento emergencial globalmente.
Um passo à frente na medicina espacial
O teste do MIRA na Estação Espacial Internacional representa um marco não apenas na tecnologia médica, mas também no avanço das capacidades humanas para explorar e habitar outros planetas. Ao investir em soluções que permitam o cuidado com a saúde em ambientes extremos, a NASA e empresas parceiras como a Virtual Incision pavimentam o caminho para uma presença humana segura e sustentável fora da Terra.
A missão é clara: garantir que, mesmo a milhões de quilômetros de casa, os astronautas tenham acesso a atendimento médico de ponta — e o MIRA pode ser o primeiro grande passo nessa direção.